Saturday, November 18, 2006

Kaonashi...

É assim... vê se mal as horas e acaba se a passar a noite no aeroporto de Torp na Noruega...
E logo este vôo que até tinha tido um preço fixe... no final acabou por ficar pelo dobro..

E assim se fica, deitado no banco, a tentar dormir.
Não, não consigo dormir. E não fosse esta internet gratuita, também já teria curtado os pulsos de tédio.

Lá esta, passou mais um minuto, faltam mais uns tantos.
Vejo me aqui as voltas, a pensar se hei-de penetrar o frio e ir la fora mais uma vez jogar lume à ponta de um cigarro. Não, já vou, vou escrever mais um bocado.

Olho a volta para a meia duzia de almas que por aqui também se passeiam, ou a espera do vôo ou a espera de alguém.

Perder um vôo é sempre um drama, perde se tempo, dinheiro... a paciência, uma verdadeira panóplia de más vibracões desnecessarias...

Nah... isto já não esta a fazer sentido...

Estou me a perder...

Já fui... escorreguei e caí... levanto-me... volto a cair...

Não consigo estar de pé...
Fogem os pés do chão e esborracho mais uma vez

A pedra do chão esta fria.
Volto a tentar levantar me... caio de novo e não percebo porquê
Estou aqui, caído, a pensar como o chão se tornou tão próximo de mim, e tão frio. quero calor...
Agora fecho os olhos, volto a abri los... está escuro a minha volta, estou deitado... como estava antes... mas a sensação agora é diferente.
Estou numa cama... não sei onde estou.
O cheiro que me envolve faz me concegas na memória... "eu conheco-te" penso...
Ainda não me mexi... não sei o que se passa... não sei onde estou... mas o perfume é intenso... e acarinha me...
Penso em mexer me... " se calhar não devo, talvez acabe"
Ansioso, mexo uma mão... toco em algo... assusto me e puxo a mão.
Volto a tentar, devagarinho, mais um pouco...

"Ehmm!!!" - inspiro com um susto...

Toco de novo em algo com a ponta dos dedos... algo macio...
Exploro mais um pouco e sinto o calor de um corpo... um corpo que está deitado ao meu lado...
Aqui sim, sei de onde vem o perfume que me seduz... é deste corpo... quente, que esta ao meu lado.

Arrisco mais um pouco... sinto as costas... os ombros... um braco... um pescoco... cabelo... uhm que perfume enebriante, passaria o resto da vida a sentir este perfume sem nunca me fartar...

Entrelaco os meus dedos nesse cabelo de alguém...

Mexo o corpo devagar e partilho o calor do outro corpo... quente... macio... pulsante... vivo...
Passo o meu braco por cima do outro braço que já lá estava, sinto a forma do corpo... quente...
Gozo de deste momento assim... o calor de um corpo... vivo... perfumado...

Com os olhos habituados ao escuro, vejo contornos...

O Sol ameaça uma luz por entre uns estores mal fechados...
Com a ponta do dedos começo a descobrir a cara por detrás dos cabelos... lentamente, para não acordar a dona do corpo que me aquece...

Quando o rosto se começa a mostrar vejo contornos meigos... que me trazem conforto...

De repente sinto me a cair... tudo está escuro de novo... e caio...


Bato seco num chão duro e poeirento... tenho uma luz forte sobre mim... ainda sem perceber o que se passa, comeco a ser sovado por todos os lados... não vejo nada... sombras mexem se freneticamente a minha volta... mas não distingo nada...

A única coisa que sinto para além da dor fisica é um sentimento forte de saudade... que aumenta com cada pancada que me é dada... e cresce me dentro sem fim... cresce... cresce...

Num sofrimento desesperado contraio o corpo na posicão fetal e fecho os olhos com forca...

De repente não sinto nada... abro os olhos a medo e vejo que estou encolhido no chão do aeroporto... sozinho...

Tento levantar me... devagar... com medo de cair...

Levanto me muito lentamente como que a descobrir cada movimento como novo...

Volto me a sentar em frente ao monitor...
Encerro a minha escrita....


Vou dormir

Sunday, February 05, 2006

3G

Um homem esta de pe, com o telemovel na mao,liga a sua ex-namorada faz uma video-chamada, ela ve o e ele ve a de volta, tudo se passa ao vivo. Falam um bocado, ele diz que sente falta dela, ela pede lhe que nao comece. Pergunta lhe onde esta, ele gira o telemovel na mao, e mostra os seus pes, cravados no chao, a beira de um edificio, sao 100 metros, 20 andares. Ela grita e pergunta-lhe o que esta a fazer, ele responde : - “Amo-te” e salta, mantendo a camara do telemovel apontada para a cara, ela nao consegue dizer nada esta estatica no seu escritorio, com o telemovel na mao. Ele enquanto cai, tb nao emite nenhum som, toda sua vida lhe passa diante dos olhos, todos os momentos a mil a hora, comprimidos em segundos, ela do outro lado relembra todos os momentos com aquele homem, desde que se conheceram ate aqui, estes segundos, os ultimos. A imagem acaba, fim de ligacao. Ela comeca a chorar, ele jaz no chao numa qualquer rua da cidade, com pessoas estericas a sua volta. Ela cai no chao com o telemovel na mao, olha para as luzes do tecto, e soluca. A camara gira, zoom-out, fade out...